O grupo Serenata & Cia. proporciona com sua arte, em um estilo musical que atravessa gerações e modernismos, belas homenagens e momentos marcantes. Como este:
Foi no começo do mês de julho que Fredi Jon recebeu a ligação de um rapaz, seu nome era Roberto. Ele queria fazer uma homenagem para sua namorada, a Carolina. O rapaz se mostrava muito apaixonado e durante a conversa teceu inúmeros elogios à moça.
Ele queria algo espetacular, coisa de cinema mesmo. Falou que ela era especial e que nada do que fizesse chegaria aos pés de Carolina.
Realmente o rapaz parecia estar muito apaixonado, estava disposto a gastar o que podia e o que não podia também. Na verdade, ele falava, falava e não dizia nada, elogiava, rasgava seda, mas não ia ao ponto.
– Ok, já entendi que você encontrou o amor da sua vida, mas o que exatamente você quer fazer para ela?, perguntou Fredi Jon. O rapaz ficou ali parado, boquiaberto (dava para ver que estava pensando) por alguns segundos e falou: – Eu não sei, só sei que quero algo inesquecível, algo que mostre que sou um bom partido para ela.
Aquela resposta soou um tanto estranha, mas, nesses 23 anos de Serenata & Cia, já vimos muitas coisas estranhas. Fredi Jon expôs para Roberto todos os trabalhos da Serenata detalhadamente. O rapaz ouviu com atenção, mas seu rosto se iluminou quando ouviu a palavra chuva de pétalas. Ele quase gritando falou: – É isso, sim, é isso que eu quero, quero uma chuva de pétalas de rosas, muitas e muitas pétalas de rosa, mas quero isso caindo de um helicóptero. Está decidido. Quero o trabalho mais caro de vocês e uma chuva de pétalas.
Fredi Jon ficou olhando para o rapaz e por fim, perguntou quais seriam as músicas. Ele de forma displicente respondeu que não sabia quais escolher e disse para nosso seresteiro colocar as que eram mais vendidas.
Assim foi feito, no segundo domingo do mês de julho, o grupo em quarteto rumou para o bairro do Morumbi. Exatamente ao meio-dia estavam na porta da casa. E lá também estava Roberto esperando por eles, ansioso, parecia uma criança. Ao longe dava para ouvir o barulho do helicóptero, o rapaz acertou os últimos detalhes com o piloto e disse aos nossos músicos que poderiam entrar cantando.
Era aniversário de Carolina, aquela era a casa dela, estava cheia de parentes da moça, e assim foi feito.
A trupe entrou cantando uma linda canção internacional e foi uma surpresa. As senhorinhas emocionadas olhavam admiradas para nossos seresteiros, até que Roberto chegou do nada, puxou a garota pelo braço e tascou um beijo desentupidor de pia na menina. Os parentes ficaram incrédulos olhando para a cena e, como se não bastasse, o bendito helicóptero chegou e montes e montes de pétalas começaram a cair. Era pétala para todo lado, pétala na piscina, dentro da comida, na boca da cantora, até dentro do sax caiu pétalas.
Não dava prá ouvir mais nada e o beijo não terminava nunca. Fazer o que? Nossos músicos continuaram tocando e a admiração virou indignação. Os parentes cochichavam, enquanto o casal dançava em meio aos montes de pétalas.
No final, Carolina discretamente entregou um cheque para Fredi Jon. É gente, é isso mesmo, era ela que estava bancando a coisa toda. Ela pagou por tudo para tentar convencer a família que o cara valia a pena. É mole?? E será que valia mesmo?
Texto: FERNANDA MORENA
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