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ARTIGO: Não podemos deixar de ser

No último final de semana estive no Vale do Ribeira, a região com a maior concentração de comunidades remanescentes de quilombos no estado de São Paulo.

Como não poderia deixar de ser, visitei os quilombos André Lopes, Ivaporunduva, Nhunguara e São Pedro. Para quem não sabe, eu coordenei durante dez anos o programa “Vale do Ribeira”, do Instituto Socioambiental, com comunidades quilombolas da região, a qual conheço muito bem. 

Os quilombos, assim como as comunidades indígenas, caiçaras, de ribeirinhos e outros povos tradicionais, tem uma ligação simbiótica com o território aonde estão inseridos, ou seja, com o meio ambiente.

Se no passado os ecologistas defendiam a retirada de populações humanas de áreas de preservação, hoje sabemos que os territórios onde há maiores índices de conservação ambiental são justamente aqueles onde vivem esses povos – são os “Guardiões das Florestas”.

Em 2021 e 2022, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) publicou o estudo “Povos Tradicionais e Biodiversidade no Brasil: contribuições dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais”.

A série de sete volumes reuniu evidências e destacou a importância desses grupos para o conhecimento e preservação da biodiversidade brasileira, que somada à sua diversidade étnica e cultural, compõe o que chamamos de sociobiodiversidade, talvez a maior riqueza do Brasil para esta e as futuras gerações.

O próprio termo sociobiodiversidade, escrito assim, junto, é uma tentativa de mostrar que as questões ambientais e sociais não podem ser analisadas separadamente, especialmente em um país como o Brasil. Aqueles que tentam criminalizar ou desumanizar indígenas, quilombolas, ribeirinhos e caiçaras, o fazem porque ambicionam tomar suas terras, para devastar florestas e poluir rios em nome do lucro particular, enquanto a riqueza que os povos tradicionais protegem, traz benefícios para todos, no Brasil e fora dele.

Além disso, estes povos fazem parte da própria identidade do brasileiro que, sem eles, deixaria de ser. 

 

Nilto Tatto

(Deputado federal – PT/SP)

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